Casula
História da Casula
A casula origina-se da antiga
vestimenta romana, o byrrus ou paenula, uma espécie de manto em forma de poncho
que os homens vestiam sobre suas túnicas. Tal veste era de uso corrente no
âmbito civil romano entre os séculos III-VI. Entre os séculos VI e VII, com a
adoção da indumentária germânica (túnicas masculinas mais curtas acompanhadas
de calças, mantos com aberturas no braço direito, etc) aos costumes romanos, a
paenula foi paulatinamente sendo reservada ao uso eclesiástico, haja vista que
os clérigos mantiveram o costume indumentário romano. No mosaico do século VI retratando
a corte do Imperador Justiniano na Basílica de São Vital em Ravena, já é
possível distinguir perfeitamente as vestimentas dos leigos e dos clérigos.
Contudo, há menções a um antigo retrato de finais do século VI do Papa São
Gregório I Magno junto com seu pai e ambos estão vestindo a paenula, muito
embora o pai de São Gregório fosse leigo. Portanto, esse processo foi lento e
não ocorreu simultaneamente em todas as regiões.
Tendo sido reservada para uso litúrgico em meados do século VI, até o
período carolíngio (séculos VIII-IX) a casula ainda será de uso geral para
todos os ministros litúrgicos em algumas regiões. Somente no século IX que se
torna veste exclusiva dos sacerdotes. Roma, contudo já seguia essa norma depois
do século VII. É durante o período carolíngio também que as casulas sofrerão as
primeiras modificações da decoração e formas. Para facilitar a movimentação dos
braços, encurta-se um pouco nos lados ou na parte frontal.
Ainda se usavam também as casulas cônicas, que se estendiam inteiras até
os pés tal como a antiga paenula. A casula cônica será característica do
período românico até o século XII (embora as outras duas formas mencionadas
também ainda fosse usadas), quando será substituída pelo modelo gótico, que
encurta um pouco os lados dos braços nas barras. O modelo gótico perdurará no
Ocidente até o século XV, sofrendo apenas variações na sua decoração, mas
havendo uma grande uniformidade na forma.
Detalhe de um afresco de Giotto na
Basílica de São Francisco em Assis, século XIV. Nela vemos um presbítero usando
uma casula gótica ricamente decorada.
A partir do século XVI, por maior praticidade, passa-se a encurtar cada
vez mais as laterais das casulas, até que em finais do século XVII chega-se ao
modelo hoje conhecido como casula romana e que foi o mais utilizado no Rito
Romano até o Movimento Litúrgico do século XX recuperar o uso das casulas
góticas, que se tornaram novamente comuns após a reforma litúrgica de 1969.
Contudo, as casulas góticas atuais geralmente são mais simples e de tecidos
mais leves que as medievais. Há também as casulas semi-góticas surgidas no
século XX que consistem em uma versão mais curta da casula gótica.
Pintura do
século XVII retratando São Felipe de Néri. Nela já vemos um modelo de casula
bastante encurtado nas laterais dos braços.
Pintura de
Jeronimo Jacinto, século XII, retratando uma Missa. Nela vemos o modelo de
casula que originou a conhecida casula romana.
Uso na forma ordinária
A casula é usada sempre sobre alva e
estola, preferencialmente com amito e cíngulo; por conta do seu significado
atrelado ao sacrifício, a casula é usada unicamente na missa. Única excessão é
a celebração da Paixão no Senhor, na qual não se celebra verdadeiramente a
missa, apenas recorda-se da Paixão Salvífica de Cristo.
O bispo, nas missas mais solenes, usa casula sobre a dalmática. Nas
concelebrações, por conta de um número elevado de concelebrantes, esses podem
ser dispensados do uso da casula, não porém, o celebrante principal.
Entretanto, seria louvável que as dioceses tivessem conjuntos de casulas no número dos seus padres. Ainda que simples e todas da cor branca, elas proporcionariam uma beleza visual na uniformidade das vestes dos concelebrantes, além de mostrar maior clareza na unidade sacerdotal.
Entretanto, seria louvável que as dioceses tivessem conjuntos de casulas no número dos seus padres. Ainda que simples e todas da cor branca, elas proporcionariam uma beleza visual na uniformidade das vestes dos concelebrantes, além de mostrar maior clareza na unidade sacerdotal.
Durante as procissões e para a bênção do Santíssimo Sacramento usa-se
pluvial da cor da missa em que se encontram. Retira-se, ainda, a casula para o
lava-pés, para a unção do altar e para a adoração da cruz na celebração da
paixão.
Retirando-a para a unção
de um altar
Além disto, não retira a casula para
nenhum outro rito durante a celebração da Santa Missa.
A transladação do
Santíssimo Sacramento, na Quinta-feira Santa, é feita com véu umeral sobre a casula
e não sobre o pluvial
Uso na forma extraordinária
O uso é semelhante ao da forma
ordinária, com algumas poucas modificações.No início da celebração, para o rito
de asperges, usa-se pluvial. Na celebração da paixão, só se usa casula durante
uma das partes da liturgia. Na vigília pascal, a casula é retirada em certos
momentos; por exemplo, se não há diácono, o celebrante retira a casula e veste
dalmática para a proclamação da páscoa.
Os sacramentos que ocorrem durante a
missa e a homilia, não são consideradas partes da mesma. Todavia, o sacerdote
não retira a casula em nenhuma dessas ocasiões. Para a homilia, pro exemplo,
retira apenas o manipulo. Para os sacramentos que são realizados imediatamente
antes da celebração da missa, usa-se pluvial geralmente.
Existe ainda uma permissão para o uso da casula quando não se celebra a
missa, numa situação muito particular: para se impor as mãos sobre os que vão
ser ordenados presbíteros pode-se usá-la sobre estola e sobrepeliz; mas apenas
durante o rito, pondo-se antes e retirando-se depois. Para a procissão do
Santíssimo Sacramento usa-se casula com véu-umeral, semelhante à transladação
do Santíssimo na forma ordinária.
Recebimento da casula
A casula é vestida pela primeira vez
na ordenação presbiteral. Logo após a imposição das mãos e oração
consecratória, o padre retira a estola diaconal, põe a presbiteral e, sobre
ela, a casula. Posteriormente, segue o rito de ordenação com a unção das mãos.
Na forma extraordinária, o sacerdote
recebe a casula amarrada na parte posterior, sendo chamada casula plicada. Ele
permanece com ela do momento que a recebe até o final da celebração. Quando o
bispo diz sobre ele a oração: "Recebei o Espírito Santo, aqueles a quem
perdoardes os pecados, eles serão perdoados; aqueles a quem não perdoardes,
eles serão retidos." Então as casulas são desamarradas.
Oração ao paramentar-se
"Domine, qui
dixisti: Iugum meum suave est, et onus meum leve: fac, ut istud portare sic
valeam, quod consequar tuam gratiam. Amen."
"Senhor, que dissestes:
O meu jugo é suave e o meu peso é leve, fazei que o suporte de maneira a
alcançar a Vossa graça. Amém."
A oração para vestir a casula é a última parte da grande oração para
paramentação, conlui-se com "Amen". Ela fala da casula como
"julgo suave de Cristo" e recorda a cruz que aparece em vários
modelos.
Alguns equívocos em relação aos modelos de casula
·
Na forma ordinária usa-se casula gótica e na forma
extraordinária, romana.
Errado. Todos os modelos de casula
(gótica, romana, neo-gótica, etc) podem ser usados em ambas as formas do rito
romano. Igualmente, ambas podem ser usadas pelo bispo com dalmática pontifical.
·
Os (con)celebrantes devem usar todos o mesmo modelo
de casula
Errado, mas com ressalvas. É, sim, permitido que, numa mesma celebração,
alguns sacerdotes usem um modelo de casula e outros usem outro. Por exemplo, o
bispo usa casula gótica e os seus sacerdotes, casula romana; ou ainda, os já
sacerdotes usam casula romana e os que se estão ordenando, gótica. O que não se
pode fazer é misturar dois ou mais modelos, se disso resultar uma combinação
desarmônica, que fuja ao bom senso litúrgico.
Casula é diferente de planeta (pianeta)
Casula é diferente de planeta (pianeta)
Não exatamente. Casula (gótica) e planeta (romana) já foram tidas como
peças sensivelmente diferentes. Por algum tempo o sacerdote para usar a casula
gótica necessitava da autorização do ordinário do lugar. Atualmente, depois da
publicação do missal de 1962, os dois modelos foram equiparados em todos os
aspectos. Sendo assim, casula e planeta podem ser tratador como sinônimos, por
mais que alguns usem cada um dos nomes para se referir a um modelo.
·
Quando se usa casula, a estola é dispensável
Errado. Sempre que se usa casula é obrigatório o uso da estola. O Galão
é um ornamento presente na casula que não faz as vezes da estola, sendo assim
não se pode suprimir a estola por conta desse elemento. Vale a pena ressaltar
ainda que a estola usa-se sempre sob a casula e nunca sobre ela.
Caráter Sacrificial e obrigatoriedade da casula
No decorrer dos séculos, como vimos,
a casula teve seu uso resumido aos sacerdotes. Não tardou para que fosse
atruído à casula uma imagem de "veste do sacerdote". A casula foi
comparada o manto que deveriam usar os judeus ao imolar o cordeiro para a
páscoa, como foi ordenado na lei de Moisés. Assim como faziam os sacerdotes
daquele povo, fazem os do povo cristão: imolar o cordeiro estando cingidos e
vestidos com o manto.
A relação entre casula e o caráter seu sacrificial é tão notável, que
alguns protestantes deixaram de usar a casula para indicar que não se realizava
ali verdaeiramente um sacrifício. A omissão da casula, por mais que não deva
ser diretamente relacionada com a negação desse dogma, deixa de expressar essa
belíssima realidade presente na Santa Missa que é a celebração do sacrifício
incruento de Cristo.
Ademais, a casula é prescrita nas rubricas como veste de uso obrigatório para a celebração da missa. Diferentemente da dalmática, a casula não é veste festiva, mas veste diária; o que não impede que se tenha casulas mais enfeitadas para as solenidades e mais simples para as missas diárias.
Ademais, a casula é prescrita nas rubricas como veste de uso obrigatório para a celebração da missa. Diferentemente da dalmática, a casula não é veste festiva, mas veste diária; o que não impede que se tenha casulas mais enfeitadas para as solenidades e mais simples para as missas diárias.
Nenhum comentário:
Postar um comentário