sábado, 15 de setembro de 2012


                          Liturgia- Parte 6



Neste novo artigo sobre a liturgia da Santa Missa, vamos nos deter na Oração Eucarística, também chamada de Anáfora. É a parte mais importante de toda a celebração. Eis algumas observações:
1. A Oração Eucarística é precedida por uma Oração sobre as Oferendas e pelo Prefácio com o canto ou recitação do “Santo”. É importante observar que não se pode mudar a letra do “Santo”. Quando ele é cantado deve-se usar uma letra o mais próxima possível daquela que está no Missal.
2. Quanto à Oração Eucarística, deve-se ter cuidado na escolha. É sempre preferível utilizar uma das quatro, aprovadas para toda a Igreja. O prefácio da Oração IV não pode ser substituído por um outro. A Oração V é tipicamente brasileira. Aos domingos dever-se-ia utilizar sempre uma das quatro principais. Nas grandes solenidades o ideal é utilizar a Oração Eucarística I, também conhecida como Cânon Romano. As orações eucarísticas “para diversas circunstâncias” somente devem ser usadas em circunstâncias especiais, nunca aos domingos nem nas missas ordinárias. O que se faz atualmente – inclusive os venenosos jornaizinhos – é um abuso e um erro.
3. O celebrante não pode mudar nada na Oração Eucarística. É absolutamente proibido!
4. A quem é dirigida toda a Oração? Ao Pai pelo Filho no Espírito. O celebrante deve ter todo o cuidado para não dar a entender que está fazendo a Oração dialogando com o povo! O diálogo é do padre, em nome de toda a Igreja, com Deus-Pai e não com a assembléia!
5. Deve ser bem realçado o rito de impor as mãos sobre as ofertas, pedindo ao Pai que derrame sobre elas o Espírito Santo do Senhor Jesus. É na força do Santo Espírito e no pronunciar as santas palavras do Senhor Jesus, cheias do Espírito Santo, que se dá a Consagração.
6. O padre deve ter o maior cuidado de, na hora da Consagração, não estar narrando a Última Ceia para o povo! É um erro gravíssimo! É não ter compreendido nada da dinâmica da Missa! A narração que o padre faz (“Na noite em que ia ser entregue...”) é ao Pai! É a Igreja toda que, pela voz do celebrante, faz memória ao Pai e diante do Pai de tudo quanto o Senhor Jesus fez pela nossa salvação!
7. Também é um gravíssimo erro quebrar a hóstia logo na hora da Consagração: “Ele tomou o pão, deu graças e partiu”... Aqui não se parte a hóstia! Ela será partida no momento do Cordeiro! É preciso compreender que a estrutura da Missa segue os quatro gestos de Jesus: ele tomou o pão e o vinho (Apresentação das Ofertas), deu graças (Oração Eucarística), partiu (no momento do Cordeiro) e o deu aos seus discípulos (Comunhão). Partir o pão na hora da Consagração avacalha a espinha dorsal da celebração numa clara e triste demonstração de desobediência à Igreja e ignorância litúrgica!
8. Outro erro muito comum e muito feio é a mania de ler intenções da Missa durante a Oração Eucarística. Quebra-se totalmente a dinâmica da oração ao Pai... É como meter um monte de avisos e informações para a assembléia bem no meio da Oração! Seria possível dizer neste momento o nome do morto por quem se está celebrando se fosse um ou dois mortos apenas... Mas, no Brasil, são muitas intenções numa Missa só! Então, o momento de dizer as intenções é no início da Missa, antes da entrada do celebrante ou logo após o “Bendito seja Deus que nos reuniu no amor de Cristo” ou, ainda e melhor que todas as opções, ao final da Oração dos Fiéis. Pode um leitor ou o próprio padre dizer mais ou menos assim: “Pelas intenções pelas quais é oferecida esta santa Eucaristia...” E aí se colocam as intenções, começando pelos vivos e terminando pelos mortos... Depois, como nas outras preces, diz-se o “Rezemos ao Senhor”... Na Oração Eucarística não se lê mais intenção alguma!
9. Lembrem-se todos que as respostas dentro das Orações Eucarísticas são facultativas...
10. Importante: o “Por Cristo...” é dito somente pelo celebrante. Nenhum padre tem direito ou autoridade para mandar o povo rezar com ele esta Doxologia (glorificação) final!
11. Ainda um lembrete: Na hora da Consagração todos os que tiverem saúde nos joelhos se ajoelham, inclusive os diáconos! Esta é a norma litúrgica da Igreja e ninguém é lícito fazer diversamente.
12. No caso de concelebração, ao erguer o Corpo e o Sangue do Senhor no “Por Cristo...”, o celebrante principal não deve dar aos concelebrantes outras âmbulas que estejam sobre o altar. Nesta situação, ele eleva a patena, com a Hóstia consagrada deitada sobre ela (é absolutamente errado levantar a patena mostrando a Hóstia ao povo. Isso se faz na elevação após a Consagração) e dá o cálice ao diácono ou, na ausência deste, a um dos padres concelebrantes. E pronto; as âmbulas devem ficar sobre o altar, e não serem dadas aos demais concelebrantes!
13. É muito aconselhável que o “Por Cristo” seja sempre cantado e o povo responda com um “Amém” também cantado!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012


                          Liturgia - Parte 5


Prosseguimos ainda com as observações sobre a liturgia. Recordo ao leitor que são observações soltas, que vou fazendo à medida que recordo os usos e abusos mais comuns nas nossas comunidades, alguns deles com o conselho, o incentivo e o aval de conhecidos liturgistas em nada comprometidos com as orientações emanadas pela Santa Sé. E, assim, o nosso povo vai se tornando cobaias de um laboratório (ou oficina, como é moda dizer) litúrgico – como se a liturgia pudesse ser fabricada em laboratório ou inventada artificialmente...
Assim, vamos agora à Liturgia Eucarística, que se inicia com a apresentação das ofertas e vai até a oração após a comunhão. Eis as observações que proponho:
1. É um abuso que se deixa para cobrir o Altar neste momento. Na liturgia latina, o Altar deve sempre estar coberto, mesmo que seja uma mesa bela e artisticamente rica. Altar descoberto significa abstinência de celebração da Eucaristia e é um símbolo próprio do período que vai do encerramento da Missa na Ceia do Senhor até a tarde do Sábado Santo, quando se ornamente a igreja para a Vigília Pascal. Pior ainda é deixar o Altar descoberto mesmo durante a Liturgia Eucarística, usando somente o corporal!
2. Não esqueçamos: a toalha deve ser branca, digna, não deve ser vazada, pois deve reter os fragmentos da hóstia que porventura caiam ou o vinho consagrado em caso de acidente.
3. É importante que os vasos sagrados não sejam uma adaptação de mau gosto, mas sejam próprios para a liturgia. Por exemplo: muitas vezes, para o lavabo, colocam uma bacia comum e uma leiteira com a água para lavar as mãos, além deu ma toalha de rosto! Está errado! Outras vezes, as galhetas são improvisadas em vidrinhos ou galhetas de refeição comum. Não é adequado. Pior ainda quando, ao invés do cibório ou âmbula, toma-se um recipiente de vidro próprio para se guardar doce ou biscoitos! É puro mau gosto!
4. Deve-se evitar encher o altar de coisas: jornalzinho, folha de cânticos, agenda com intenções, etc. O Altar é imagem de Cristo; deve ser reverenciado e respeitado! Sobre ele devem estar somente o indispensável: o corporal, o sanguinho, a patena com o pão, a âmbula, o cálice com a pala e o missal (se for necessário com um apoio para facilitar a leitura do celebrante). Se não tiver outra solução, coloquem-se ainda sobre ele duas velas (uma de cada lado). Nas missas solenes podem ser colocadas quatro ou até seis. Sete velas somente podem ser usadas nas missas presididas pelo Bispo. Ao lado ou sobre o Altar coloca-se também o crucifixo (sempre com o Crucificado). Se já houver um grande no fundo da igreja, voltado para o povo, basta. Neste caso, havendo cruz processional, ela é colocada voltada para o celebrante.
5. Quanto à procissão das ofertas, somente se apresenta coisas que sejam para o sacrifício (pão, vinho e água), donativos para os pobres ou objetos que depois sirvam para doação ou para o uso da igreja. Nunca se ofertam coisas que depois sejam retomadas: isso é teatro, coisa totalmente alheio ao espírito litúrgico! Então, é totalmente errado ofertar um casal, uma mãe, uma um cartaz, etc. Também não se ofertam os objetos que já são da igreja: as velas que serão colocadas sobre o Altar, o lavabo, o cálice vazio... Tudo isso é totalmente sem sentido! É teatrinho de faz-de-conta! Também não há necessidade alguma de fazer comentário sobre o que se está oferecendo! A apresentação é a Deus e Deus já sabe do que se trata. Tudo quanto se puder evitar de comentários durante a missa somente fará bem à celebração! Rito não é para ser explicado; rito é para ser vivido, saboreado!
6. Quanto ao canto das ofertas, não é necessário que tenha que falar em ofertório, em pão ou em vinho. Qualquer canto litúrgico que ajude a aprofundar o mistério celebrando ou seja dirigido a Deus e não seja contrário ou alheio ao espírito do rito que se está realizando, pode ser usado...
7. O bom é que as galhetas e o lavabo não sejam colocados sobre o Altar. Uma vez utilizados deveriam ser recolocados na credência.
8. Está se introduzindo um costume abusivo nas nossas missas, um rito novo, extra-litúrgico: oferecer água ao padre para beber. Isso está errado! Se algum celebrante tem problema de garganta, pigarro ou coisa do gênero, admite-se. Mas, que isso se torne regra, é totalmente errado! Durante a celebração não se come nem se bebe nada a não ser as sagradas espécies na hora liturgicamente prevista. Esse abuso revela o quanto a sacralidade e o espírito de renúncia e auto-disciplina vão desaparecendo na Igreja! Do mesmo modo não é nada elegante o coral ficar bebendo água dentro do espaço litúrgico durante a celebração. Quem precisar beber, vá à sacristia!
Continuaremos depois.

terça-feira, 11 de setembro de 2012


Liturgia- Parte 4


Retomamos com este artigo nosso pequeno comentário sobre a liturgia da Missa. Agora, depois de termos visto os ritos iniciais, veremos a Liturgia da Palavra, que vai da primeira leitura até a oração dos fiéis. Eis as observações que gostaria de fazer:
(1) O centro da Liturgia da Palavra é o ambão. Assim como toda igreja deve ter o Altar, deve ter também o ambão. Mesmo uma capelinha modesta deve tê-lo. Onde colocá-lo? De preferência, segundo antigo costume, no lado esquerdo do Altar, o chamado lado do Evangelho na liturgia antiga. Mas, pode também ser colocado em outro lugar, desde que seja no presbitério. Deve estar num lugar bem visível e não deve ser uma simples estante móvel. Deve ser fixo e, de preferência, do mesmo material do Altar. Do ambão são proferidas somente as leituras, o salmo e o precônio pascal. Também daí pode ser feita a homilia e as intenções das orações dos fiéis. Nunca se faz o comentário ou se dá avisos do ambão: sua dignidade exige que aí suba somente quem vai proclamar a Palavra! Para comentários e avisos (e, se for o caso, para a oração dos fiéis), coloque-se uma estante simples e digna fora do presbitério.
(2) Quanto às leituras: (a) Se houver comentários antes delas (coisa totalmente desnecessária, chata, antipática e inoportuna), estes devem ser brevíssimos. (b) O comentarista nunca pode dizer qual o livro que será lido e muito menos dizer capítulo e versículo. (c) É o leitor quem anuncia: “Leitura do... leitura da...”, conforme está no Lecionário, sem inventar moda. (d) Nunca se faz a leitura pelo jornalzinho ou pela liturgia diária! A dignidade da Palavra de Deus e o respeito profundo que se lhe deve ter exigem que esta seja proclamada do Lecionário. Também é absolutamente errado fazer a leitura pela bíblia. Não somente é errado como é também proibido. Só as Conferências Episcopais podem fazer adaptações relativas aos textos proclamados na Missa e, assim mesmo, respeitando o princípio de que os textos sejam escolhidos do Lecionário devidamente aprovado (cf. Instrução Geral sobre o Missal Romano, 362). Então, se numa missa especial deseja-se escolher uma leitura diferente, pode-se fazê-lo, desde que ela seja escolhida dentre as que existem no Lecionário. Nada de tomar diretamente da Bíblia! A regra é clara e sem exceção: a Palavra de Deus, na Santa Missa, é sempre proclamada do Lecionário. (e) Não é conforme à tradição litúrgica da Igreja latina fazer procissão com a Bíblia! Isso nunca existiu na Igreja. A única procissão com a Palavra de Deus que é liturgicamente correta é o diácono ou um leitor entrar na procissão de entrada com o Evangeliário (O Livro dos Santos Evangelhos), que simboliza o próprio Cristo, presente em sua Palavra. Não se entra com o Lecionário em procissão! São abusos, ritos artificialmente inventados que não têm nenhum respaldo na tradição milenar da Igreja. Nunca se deve fazer um rito porque é bonito – isto não é critério litúrgico nem é criatividade; é pura e simples mutilação e desfiguração da liturgia! (f) É proibido e, portanto, totalmente errado fazer leitura encenada. A leitura é proclamada por um só leitor. É errado e abusivo um casal fazer a mesma leitura. É um leitor só para cada leitura. Também não se pode dividir as várias partes do Evangelho entre várias pessoas. Isso somente é permitido na Semana Santa, para a proclamação da Paixão do Senhor. (g) O Salmo de meditação não pode em hipótese alguma, ser substituído por um cântico de meditação, nem mesmo que seja um cântico inspirado num salmo. Em outras palavras: deve-se cantar ou recitar o salmo como está no Lecionário! (h) Na tradição litúrgica da Igreja, proclamar as leituras não é função do presidente; assim, devem sempre os leigos proclamarem as leituras e o diácono, o Evangelho. Somente na falta deste é que o padre deve proclamá-lo. Contudo, se na assembléia não houver quem possa proclamar de modo claro e edificante, o próprio padre proclame as leituras e o Evangelho.
(3) A homilia é preferencialmente feita do ambão. Pode também ser feita da cadeira. É costume que o padre faça a homilia em pé. O Bispo pode fazê-la sentado. O tema da homilia é sempre um comentário da Palavra de Deus, colocada no hoje da nossa vida, uma explicação dos mistérios da fé cristã ou sobre o tema da festa que se está celebrando. Nunca, em hipótese alguma, a homilia pode ser usada para fins alheios à sua natureza, como fazer propaganda política, dar recados velados a pessoas da comunidade, repreender o povo, etc. A homilia é parte integrante da Liturgia da Palavra e como tal deve ser respeitada em toda a sua dignidade. A homilia somente pode ser proferida por um ministro ordenado: Bispo, padre ou diácono. Por mais ninguém! É abuso e indisciplina que religiosos que não sejam ministros ordenados façam homilia. Se for necessário, por algum motivo, que alguém diga uma palavra de edificação, deve fazê-lo após a oração após a comunhão, antes dos avisos, mas nunca no momento reservado à homilia!
(4) Quando se canta ou se recita o Credo, que se tenha o cuidado de não lhe mudar a letra que está no missal.
(5) Quanto à oração dos fiéis, pode ser apresentada pelo diácono ou por um ou mais fiéis. Pode ser feita do ambão ou da estante. Deve-se evitar deixar que se faça espontaneamente do meio do povo. Isso somente tem sentido quando a Santa Missa é celebrada com grupos pequenos. O correto é que a oração seja em forma de intenção apresentada ao povo, assim: “Por... pela.../ para que.../ rezemos ao Senhor”. Não é a melhor forma litúrgica apresentar a oração diretamente a Deus, assim: “Senhor,..... /nós vos pedimos”. Nunca se deve substituir a oração dos fiéis por uma oração recitada por todos, pela ladainha de Nossa Senhora, pela ladainha de todos os santos ou uma outra qualquer. Os jornaizinhos, às vezes fazem isso; mas, já sabemos que tais jornaizinhos não têm o mínimo respeito pelas normas litúrgicas da Igreja. Fazem como querem, como se fossem os donos da Missa!
(6) Como no Brasil toda missa tem muitas intenções, é melhor que a útlima oração seja a apresentação de tais intenções, começando pelos vivos e terminando pelos falecidos. Mas, é preciso escrever tais intenções de uma forma elegante, concisa e objetiva. Às vezes, tais intenções são apresentadas de um modo impossível!
Continuaremos.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012


Liturgia- Parte 3


Nos passados artigos sobre a liturgia, apresentei algumas questões gerais sobre o sentido dos ritos na Igreja. Agora, vou tratar concretamente de alguns ritos e partes da Santa Missa, começando, naturalmente, pelos ritos iniciais. Esses ritos são a entrada, o ato penitencial, o “Senhor, tende piedade”, o Glória e a oração do dia (chamada de “coleta”). Qual o sentido de todos estes ritos? Preparar e introduzir a comunidade num clima de comunhão e escuta sagrada da Palavra de Deus. Estes ritos, portanto, preparam a comunidade para entrar no clima de uma verdadeira ação litúrgica!
A procissão de entrada é feita pelo sacerdote, o diácono (caso haja um) e os ministros, isto é, os acólitos. Não é previsto nem é de acordo com a tradição litúrgica da Igreja que entrem os leitores e os que farão as preces. O correto é que esses estejam nos seus lugares no meio da assembléia sem nenhuma veste “litúrgica” que os destaque.
O canto de entrada não é para “receber o nosso celebrante, padre fulano de tal” – como se diz por aí a fora! O canto de entrada tem como finalidade abrir a celebração, promover a unidade da assembléia pela mesma voz e introduzir no sentido daquilo que se está celebrando, de acordo com o tempo ou a festa litúrgica. Então, é errado o comentarista dizer: “Fiquemos de pé para receber o nosso celebrando, os acólitos, etc...” Fica-se de pé para cantar louvando a Deus, e canta-se para introduzir a celebração. Também não se deve dizer o nome do sacerdote. É sempre e somente Cristo quem celebra! Na liturgia não há lugar para personalismos! Aliás, os comentários devem ser simples e diretos, com pouquíssimas palavras. Nunca se deve dizer o nome da pessoa que fará esta ou aquela ação; é um cristão, membro da comunidade. Basta!
Diante do Altar todos fazem uma reverência – a não ser que o Santíssimo esteja colocado no fundo da igreja, atrás do Altar. Neste caso, faz-se genuflexão. Só o sacerdote (e o diácono) beija o Altar. O sacerdote, inicia a Missa diretamente com o sinal da cruz. Aqui é importante esclarecer: nunca o padre deve fazer algum comentário neste momento. Simplesmente, começa a Missa e pronto! Para ser bem claro: a primeira palavra do padre na Missa é “Em nome do Pai...” Não pode ser outra! Depois do “Bendito seja Deus...” é que ele, antes de convidar ao ato penitencial, pode, com breves palavras, dar as boas vindas e introduzir no sentido da Missa daquele dia. Então, não é o comentarista quem diz: “Boa noite! Sejam todos bem-vindos!” Está errado! Não se deseja boa noite nem bom dia na celebração litúrgica! São essas coisas que vão tornando a missa um showzinho meloso e insuportável, que parece não mais ter fim! Ainda sobre o canto de entrada: ele deve terminar logo que o padre beija o Altar e se dirige à sua cadeira. É importante compreender que quando o canto acompanha um rito, terminado o rito, termina também o canto!
Quanto ao Ato penitencial, há algumas observações importantes. A primeira delas é a seguinte: é preciso distinguir o Ato penitencial do “Senhor, tende piedade”. Não são a mesma coisa! O Ato penitencial é um pedido público de perdão por parte da comunidade e de cada seu membro; o “Senhor, tende piedade”, ao invés, é um canto de aclamação ao Senhor morto e ressuscitado e de pedido pela sua gloriosa misericórdia. Este “Senhor, Cristo, Senhor” não é dirigido à Trindade, mas ao Cristo: é ele o Senhor!
O Ato penitencial pode ser feito de três modos diferentes: 1) “Confessemos os nossos pecados...”; e reza-se o Confesso, 2) “Tende compaixão de nós, Senhor...” e 3) unido ao “Senhor, tende piedade”... Sobre este terceiro modo, veremos logo abaixo. O Ato penitencial é concluído pela absolvição: “Deus todo-poderoso tenha compaixão de nós...” Depois disso, canta-se ou recita-se o “Senhor, tende piedade...”, que não tem nada a ver com o Ato penitencial!
Mas, como disse acima, pode-se unir o Ato penitencial e o “Senhor, tende piedade”. Como fazer? O sacerdote convida a reconhecer os pecados e, depois diz-se: “Senhor, que... Cristo, que... Senhor, que...” apresentando-se uma invocação. Após isso, o padre dá a absolvição: “Deus todo-poderoso tenha compaixão...” Então, resumindo: quando se diz “Senhor, que... Cristo, que... Senhor, que...” isso já é o “Senhor” com o Ato penitencial misturados; quando se reza o modelo 1 ou 2 de Ato penitencial, após a absolvição, tem-se que rezar o “Senhor”, e aí é de modo simples: “Senhor, tende piedade de nós; Cristo, tende piedade de nós; Senhor, tende piedade de nós” e passa-se logo ao Glória ou ao Oremos. É só olhar o Missal, que explica isso direitinho! No entanto, é muitíssimo comum errar nisso! Sendo assim, o coral deve sempre dizer ao padre que canto penitencial irá cantar. Se no canto penitencial já tiver “Senhor, Cristo, Senhor tende piedade”, então, com isso dá-se a absolvição passa-se ao Glória ou Oremos. Caso o canto penitencial não tenha o “Senhor”, terminada a absolvição, canta-se ou recita-se o “Senhor, tende piedade”, como eu expliquei logo acima.
Quanto ao canto do Glória, é importante saber que trata-se de um hino de louvor ao Pai pelo Filho no Espírito e sua letra não pode ser substituída por outra. A Introdução do Missal diz claramente: “O texto deste hino não pode ser substituído por outro”. Lembrem-se os responsáveis pela liturgia que tal hino é cantado nos Domingos, solenidade e festas, exceto no Advento e na Quaresma.
Os ritos iniciais terminam com a Coleta, isto é, a Oração do dia. O padre diz “Oremos”, guarda um breve silêncio para que aí, cada um se coloque diante de Deus com suas intenções para a Santa Missa; depois diz a oração. Todos se sentam para a Liturgia da Palavra.
Continuaremos no próximo número.

segunda-feira, 3 de setembro de 2012


Liturgia-Parte 2



Já vimos a definição de Liturgia dada pelo Concílio Vaticano II: “A liturgia é o exercício do múnus (= da tarefa, do serviço) sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros” (SC 7). No artigo passado expliquei um pouco essa definição: na liturgia o Cristo total (a Cabeça, que é Cristo no céu, e o seu Corpo, que é a Igreja na terra) apresenta ao Pai no Espírito Santo o culto de louvor, adoração, súplica e ação de graças pelo mundo inteiro. Esse culto litúrgico é público, é o culto de todo o povo de Deus. Nenhum batizado, estando na plena comunhão católica, pode ficar fora da celebração litúrgica. Por isso mesmo, é necessário muito cuidado com as missas de grupos: missa dos jovens, das crianças, dos neo-catecumenais, missa desse ou daquele movimento... Não! A missa é sempre de todos, é sempre da comunidade, é sempre de toda a Igreja. Pode ser uma missa animada pelos jovens, uma missa que envolva mais as crianças, uma missa cujas tarefas sejam realizadas por este ou aquele grupo, mas nunca é missa “do” grupo. Ela é sempre de todos os batizados que desejarem dela participar, missa do povo de Deus. O mesmo seja dito dos demais sacramentos: devem-se dar prioridade e preferência às celebrações comunitárias. Por exemplo: o ideal é que as celebrações do Batismo sejam comunitárias; do mesmo modo, enquanto possível, também as missas pelos fiéis defuntos. Somente em casos especiais, justifica-se uma missa em horário especial por aquele fiel defunto em particular. Essa idéia de celebração privada dos sacramentos deve ser superada, pois agride a própria noção de liturgia. Aí, o particular, o privado, será sempre uma exceção, nunca a regra!
Exatamente por ser de todos, ser da Igreja toda e de todos os tempos, a liturgia não pode ser manipulada. Ainda que se tratasse de um grupo de cinco pessoas celebrando, tal celebração é da Igreja toda e envolve a Igreja toda, de modo que deve ser celebrada segundo as normas da Igreja. É muito importante compreender isso - e muitas vezes vou repetir: ninguém tem o direito de manipular a liturgia. E isso vale para o Papa, para os Bispos, para os padres, diáconos, religiosos e leigos! Além do mais, a liturgia não é propriedade particular, não é produto nosso; ela é da Igreja, que a recebe como um dom de Deus em Jesus Cristo e nos é dada para que a celebremos. Ora, se fôssemos nós que a fabricássemos, se pudéssemos manipulá-la a bel prazer, então somente celebraríamos a nós mesmos! Pensemos bem: celebrar as ações litúrgicas é entrar no Santo dos Santos, é entrar no Mistério de Deus, ali, onde ele nos dá sua própria vida, sua própria santidade: a vida que brota do seio do Pai e nos é dada pelo Filho feito homem na potência do Santo Espírito. E tudo isso se faz palpável nos ritos, nos elementos, nos gestos, nas palavras, nos objetos, nas pessoas, no ambiente que compõem a celebração. Por esse motivo é que a Igreja tem tanto cuidado em normatizar e determinar claramente tudo quanto diz respeito à sua liturgia. Ali Deus se manifesta! A liturgia não é uma coisa nossa, a disponível à nossa manipulação, à nossa criatividade! Uma liturgia fabricada por nós não é liturgia, é um evento social: pode alegrar, distrair, dar sensação de bem-estar, mas jamais nos dará a vida divina, a vida de Deus! É importante que compreendamos que os próprios livros litúrgicos da Igreja (o missal, o livro dos sacramentos, o livro das leituras, os volumes do ofício divino) não são inventados por um grupo de técnicos em liturgia. Eles são a síntese e a depuração através dos séculos do que melhor foi nascendo na vida da Igreja ao longo desses dois mil anos. Cada rito, cada gesto, cada palavra, cada oração tem seu sentido, sua história, sua razão de ser. Seria uma arbitrariedade tremenda que um padre ou uma comunidade tomasse isso como se fosse propriedade privada e fizesse do seu modo!
Além do mais, é necessário compreender que a liturgia é rito, rito religioso. Rito não se inventa, não se cria. Jesus celebrou cumpria fielmente os ritos judaicos... O belo do rito é que ele tem a sua função e a sua força precisamente na repetição. Quando um cristão vai à missa, vai para celebrar a páscoa de Cristo, tornada presente no seu sacrifício, celebrado e oferecido em nosso altares. Um católico não vai à missa esperando novidades ou criatividades do padre, não vai ver o show do sacerdote nem a euforia da comunidade. Não se vai à missa perguntando: “O que teremos hoje de novidade, de teatro, de dramatizações, de palmas?” A novidade é e será sempre Cristo, oferecido em sacrifício e dado em comunhão para o louvor de Deus e para a vida do mundo! Vai-se à missa sabendo-se exatamente que ritos, que palavras, que gestos, lá serão encontrados – e é aí que cada um traz sua vida, suas esperanças, suas tristezas, desafios e preocupações para colocar no coração de Deus. O que é lindo numa celebração é que, exatamente pelo respeito às normas, todos podem aí se encontrar na paz do Mistério de Deus: quem está triste ou alegre, quem vai suplicar ou agradecer, quem se sente sereno ou angustiado; todos, na comunhão do rito, colocam-se diante de Deus, que vem misericordiosamente ao nosso encontro. Assim, o rito litúrgico torna-se ambiente de paz, de encontro com Deus no seu Mistério, que renova a vida, dá sentido à existência e nos enche daquela plenitude que só Deus pode nos conceder. E o rito cristão é real porque, tendo sido instituído pelo Senhor ao ritualizar na Última Ceia o seu mistério pascal, foi desenvolvido no seio da Igreja e da fé da Igreja, geração após geração e é pleno do Santo Espírito, que torna presente no aqui em o agora da nossa vida ação salvífica de Deus através de Jesus Cristo. Então, a liturgia é sagrada, a liturgia é santa, a liturgia antes de ser nossa, é de Deus, antes de ser desta comunidade é da Igreja toda e de todos os tempos!

sábado, 1 de setembro de 2012


Liturgia


A liturgia é o centro da vida da Igreja. É o seu centro porque é celebração do mistério do Cristo morto e ressuscitado que, pela sua Páscoa, continuamente nos dá a vida plena, vida em abundância. Quando a Igreja celebra os santos mistérios e, sobretudo, a Eucaristia, é a própria vida que brota do Pai pelo Filho no Espírito Santo que ela recebe, a vida de Deus, vida que renova o mundo, redime do pecado, transfigura a vida, faz-nos experimentar a eternidade e nos dá força e inspiração para testemunhar o Reino que Jesus inaugurou. Sem liturgia não haveria Igreja; haveria somente uma ONG encarregada de recordar Jesus de Nazaré, promover boas obras sociais e filantrópicas e nos ensinar um moralismo capenga: devemos ser bonzinhos, devemos ser justos, devemos ser certinhos... É na liturgia que a Palavra de Deus faz-se sempre atual e a Páscoa do Senhor acontece no nosso aqui e no nosso agora, fazendo-nos comungar com as coisas do céu, dando novo sabor às coisas da terra e desvelando o sentido pleno da nossa existência e da existência de todas as coisas.
Infelizmente, muitos não compreendem isso. É muito comum encontrar até mesmo padres com formação litúrgica extremamente deficiente. Pensam que a liturgia é simples cerimônia, ritualismo, e quem gosta de liturgia é porque quer se esconder da realidade numa alienante fuga ou é apegado a coisas secundárias como paramentos, coreografias, ritualismos, ornamentações e coisas do gênero... Triste e grave engano! Não se trata de gostar ou não de liturgia; trata-se de ter ou não penetrado na essência do cristianismo! Aqui está em jogo a alma mesma da religião cristã, de tal modo que podemos afirmar sem medo: quem não compreende a liturgia, também não compreende o sentido do que Cristo veio fazer, não compreende o ser e a missão mais profundos da Igreja nem compreende o que é a salvação. É uma questão gravíssima! Por isso mesmo, vou escrever uma série de artigos, meio desordenados, sobre temas litúrgicos. Espero, de coração, que seja de ajuda para que o Povo santo de Deus viva em profundidade o mistério de nossa fé.
Comecemos por definir liturgia. Diz a Igreja que “a liturgia é o exercício do múnus (= da tarefa, do serviço) sacerdotal de Jesus Cristo, no qual, mediante sinais sensíveis, é significada e, de modo peculiar a cada sinal, realizada a santificação do homem; e é exercido o culto público integral pelo Corpo Místico de Cristo, Cabeça e membros” (SC 7). Trocando em miúdos: a liturgia não é primeiramente ação da Igreja, ação do homem; é ação de Cristo morto e ressuscitado na potência do Espírito. Nada que o homem faça iguala em santidade ou eficácia a ação litúrgica. Outra coisa: a liturgia, sendo ação de Cristo no Espírito é perfeita glorificação do Pai e santificação da humanidade; e isso através de sinais e gestos deste mundo: água, fogo, pão, vinho, óleo... Sendo ação de Cristo cabeça da Igreja, a liturgia é também ação do Corpo de Cristo, que é a comunidade dos batizados. Vejamos como. Cristo é Cabeça da Igreja, que é seu Corpo (cf. Cl 1,18s; Ef 1,22s; 5,23). Sendo assim, Cristo e a Igreja são uma só realidade: o Cristo Total! O Concílio Vaticano II afirma: “O Filho de Deus, na natureza humana unida a si, vencendo a morte por sua morte e ressurreição, remiu e transformou o homem numa nova criatura (cf. Gl 6,15; 2Cor 5,17). Ao comunicar o seu Espírito, fez de seus irmãos, chamados de todos os povos, misticamente os componentes do seu próprio Corpo. (...) É necessário que os membros se conformem com ele, até que Cristo seja formado neles (cf. Gl 4,19). Por isso somos inseridos nos mistérios de sua vida, com ele configurados, com ele mortos e com ele ressuscitados, até que com ele reinemos (cf. Fl 3,21; 2Tm 2,11; Ef 2,6; Cl 2,12). Peregrinando ainda na terra, palmilhando em seus vestígios na tribulação e perseguição, associamo-nos às suas dores como o Corpo à Cabeça, para que, padecendo com ele, sejamos com ele também glorificados (cf. Rm 8,17)” (LG 7). Esta idéia é importantíssima, se quisermos compreender o sentido da liturgia. Cristo morto e ressuscitado nos dá uma vida nova no seu Espírito Santo. Ora, é nas ações litúrgicas que esse Espírito age, configurando-nos a Cristo e dando-nos a sua vida. A liturgia, portanto, é isso: a ação pela qual o Cristo, enviado pelo Pai, nos dá continuamente o seu Espírito Santo para que nós vivamos a ajamos nele e ele em nós. É o que a Igreja ensina: “Para levar a efeito obra tão importante Cristo está sempre presente na sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Presente está no sacrifício da missa, tanto na pessoa do ministro, pois aquele que agora oferece pelo ministério dos sacerdotes é o mesmo que outrora se ofereceu na cruz, quanto sobretudo nas espécies eucarísticas. Presente está pela sua força nos sacramentos, de tal forma que quando alguém batiza é Cristo mesmo que batiza. Presente está pela sua Palavra, pois é ele mesmo que fala quando se lêem as Sagradas Escrituras na igreja. Está presente finalmente quando a Igreja ora e salmodia, ele que prometeu: ‘Onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, aí estarei no meio deles’ (Mt 18,20). Realmente, em tão grande obra, pela qual Deus é perfeitamente glorificado e os homens são santificados, Cristo sempre associa a si a Igreja Esposa diletíssima, que invoca seu Senhor e por ele presta culto ao eterno Pai. (...) Disto se segue que toda celebração litúrgica, como obra de Cristo sacerdote, e de seu Corpo, que é a Igreja, é uma ação sagrada por excelência, cuja eficácia, no mesmo título e grau, não é igualada por nenhuma outra ação da Igreja” (SC 7).
Então, que fique bem claro: a liturgia é o que há de mais sagrado na vida cristã. Por isso mesmo não pode ser banalizada, vulgarizada, desrespeitada. Tampouco se pode menosprezar as normas litúrgicas, elaborando-se as celebrações de modo arbitrário, contra as normas da Igreja. Mas, isso veremos em outros artigos. Para terminar, só mais uma coisa: quais são as ações propriamente litúrgicas? São elas: a Santa Eucaristia (ou seja, a Santa Missa), os demais Sacramentos, o Ofício Divino (oração dos salmos, rezada ao menos cinco vezes por dia em nome da Igreja pelos ministros sagrados, religiosos e os leigos que o desejarem). Todos esses modos de oração são normatizados pela Igreja, são ações de todo o Povo de Deus (= culto público, culto do Povo santo) e não podem ser alterados arbitrariamente.