Liturgia- Parte 3
Nos passados artigos sobre a liturgia, apresentei algumas questões
gerais sobre o sentido dos ritos na Igreja. Agora, vou tratar concretamente de
alguns ritos e partes da Santa Missa, começando, naturalmente, pelos ritos
iniciais. Esses ritos são a entrada, o ato penitencial, o “Senhor, tende
piedade”, o Glória e a oração do dia (chamada de “coleta”). Qual o sentido de
todos estes ritos? Preparar e introduzir a comunidade num clima de comunhão e
escuta sagrada da Palavra de Deus. Estes ritos, portanto, preparam a comunidade
para entrar no clima de uma verdadeira ação litúrgica!
A procissão de entrada é feita pelo sacerdote, o diácono (caso
haja um) e os ministros, isto é, os acólitos. Não é previsto nem é de acordo
com a tradição litúrgica da Igreja que entrem os leitores e os que farão as
preces. O correto é que esses estejam nos seus lugares no meio da assembléia
sem nenhuma veste “litúrgica” que os destaque.
O canto de entrada não é para “receber o nosso celebrante, padre
fulano de tal” – como se diz por aí a fora! O canto de entrada tem como
finalidade abrir a celebração, promover a unidade da assembléia pela mesma voz
e introduzir no sentido daquilo que se está celebrando, de acordo com o tempo
ou a festa litúrgica. Então, é errado o comentarista dizer: “Fiquemos de pé
para receber o nosso celebrando, os acólitos, etc...” Fica-se de pé para cantar
louvando a Deus, e canta-se para introduzir a celebração. Também não se deve
dizer o nome do sacerdote. É sempre e somente Cristo quem celebra! Na liturgia
não há lugar para personalismos! Aliás, os comentários devem ser simples e
diretos, com pouquíssimas palavras. Nunca se deve dizer o nome da pessoa que
fará esta ou aquela ação; é um cristão, membro da comunidade. Basta!
Diante do Altar todos fazem uma reverência – a não ser que o
Santíssimo esteja colocado no fundo da igreja, atrás do Altar. Neste caso,
faz-se genuflexão. Só o sacerdote (e o diácono) beija o Altar. O sacerdote,
inicia a Missa diretamente com o sinal da cruz. Aqui é importante esclarecer:
nunca o padre deve fazer algum comentário neste momento. Simplesmente, começa a
Missa e pronto! Para ser bem claro: a primeira palavra do padre na Missa é “Em
nome do Pai...” Não pode ser outra! Depois do “Bendito seja Deus...” é que ele,
antes de convidar ao ato penitencial, pode, com breves palavras, dar as boas
vindas e introduzir no sentido da Missa daquele dia. Então, não é o
comentarista quem diz: “Boa noite! Sejam todos bem-vindos!” Está errado! Não se
deseja boa noite nem bom dia na celebração litúrgica! São essas coisas que vão
tornando a missa um showzinho meloso e insuportável, que parece não mais ter
fim! Ainda sobre o canto de entrada: ele deve terminar logo que o padre beija o
Altar e se dirige à sua cadeira. É importante compreender que quando o canto
acompanha um rito, terminado o rito, termina também o canto!
Quanto ao Ato penitencial, há algumas observações importantes. A
primeira delas é a seguinte: é preciso distinguir o Ato penitencial do “Senhor,
tende piedade”. Não são a mesma coisa! O Ato penitencial é um pedido público de
perdão por parte da comunidade e de cada seu membro; o “Senhor, tende piedade”,
ao invés, é um canto de aclamação ao Senhor morto e ressuscitado e de pedido
pela sua gloriosa misericórdia. Este “Senhor, Cristo, Senhor” não é dirigido à
Trindade, mas ao Cristo: é ele o Senhor!
O Ato penitencial pode ser feito de três modos diferentes: 1)
“Confessemos os nossos pecados...”; e reza-se o Confesso, 2) “Tende compaixão
de nós, Senhor...” e 3) unido ao “Senhor, tende piedade”... Sobre este terceiro
modo, veremos logo abaixo. O Ato penitencial é concluído pela absolvição: “Deus
todo-poderoso tenha compaixão de nós...” Depois disso, canta-se ou recita-se o
“Senhor, tende piedade...”, que não tem nada a ver com o Ato penitencial!
Mas, como disse acima, pode-se unir o Ato penitencial e o “Senhor,
tende piedade”. Como fazer? O sacerdote convida a reconhecer os pecados e,
depois diz-se: “Senhor, que... Cristo, que... Senhor, que...” apresentando-se
uma invocação. Após isso, o padre dá a absolvição: “Deus todo-poderoso tenha
compaixão...” Então, resumindo: quando se diz “Senhor, que... Cristo, que...
Senhor, que...” isso já é o “Senhor” com o Ato penitencial misturados; quando
se reza o modelo 1 ou 2 de Ato penitencial, após a absolvição, tem-se que rezar
o “Senhor”, e aí é de modo simples: “Senhor, tende piedade de nós; Cristo,
tende piedade de nós; Senhor, tende piedade de nós” e passa-se logo ao Glória
ou ao Oremos. É só olhar o Missal, que explica isso direitinho! No entanto, é
muitíssimo comum errar nisso! Sendo assim, o coral deve sempre dizer ao padre
que canto penitencial irá cantar. Se no canto penitencial já tiver “Senhor,
Cristo, Senhor tende piedade”, então, com isso dá-se a absolvição passa-se ao
Glória ou Oremos. Caso o canto penitencial não tenha o “Senhor”, terminada a
absolvição, canta-se ou recita-se o “Senhor, tende piedade”, como eu expliquei
logo acima.
Quanto ao canto do Glória, é importante saber que trata-se de um
hino de louvor ao Pai pelo Filho no Espírito e sua letra não pode ser
substituída por outra. A Introdução do Missal diz claramente: “O texto deste
hino não pode ser substituído por outro”. Lembrem-se os responsáveis pela
liturgia que tal hino é cantado nos Domingos, solenidade e festas, exceto no
Advento e na Quaresma.
Os ritos iniciais terminam com a Coleta, isto é, a Oração do dia.
O padre diz “Oremos”, guarda um breve silêncio para que aí, cada um se coloque
diante de Deus com suas intenções para a Santa Missa; depois diz a oração.
Todos se sentam para a Liturgia da Palavra.
Continuaremos no próximo número.
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